Escravidão

Cativeiro e cura: experiências religiosas da escravidão atlântica nos calundus de...

Autor
Marcussi, Alexandre Almeida
Orientação
Mello e Souza, Marina
Resumo

Este trabalho consiste em uma análise das práticas religiosas de origem africana conhecidas como calundus, denominação aplicada a cerimônias bastante disseminadas na América portuguesa entre os séculos XVII e XVIII, frequentadas por africanos, afrodescendentes e brancos. Os calundus possuíam funções eminentemente divinatórias e terapêuticas, e suas origens culturais remontavam às práticas religiosas das sociedades ambundas e bacongas da África Centro-Ocidental. Partindo da análise de um processo movido pela Inquisição de Lisboa contra Luzia Pinta, praticante de calundus na região de Sabará, Minas Gerais, em meados do século XVIII, esta pesquisa intenta esclarecer os sentidos sociais e simbólicos dessa prática terapêutica afro-luso-americana. O caso de Luzia Pinta é abordado de forma mais verticalizada, mas também é comparado a outras ocorrências de calundus registradas nos territórios da Bahia e de Minas Gerais entre os séculos XVII e XVIII, com o intuito de compor uma análise mais abrangente a respeito dessa prática devocional. A descrição morfológica dos calundus procura ressaltar sua heterogeneidade formal e a fluidez de suas fronteiras em relação a outras práticas religiosas do universo cultural luso-americano. A análise de sua simbologia subjacente evidencia que a categoria cosmológica que fundamentava essa prática devocional era a ancestralidade, na medida em que o rito consistia em uma tentativa de reatar os laços espirituais entre os africanos e seus antepassados, rompidos pelas dinâmicas do comércio de escravos. A tese empreende também uma discussão a respeito dos papéis ocupados por essa prática religiosa na sociedade imperial portuguesa, abordando as relações que os calundus e seus praticantes mantinham com alguns dos principais fenômenos e instituições que estruturavam a sociedade luso-americana, como a religião católica e a escravidão. Pretende-se evidenciar como, entre os séculos XVII e XVIII, os calundus codificaram uma complexa visão de mundo elaborada pelos centro-africanos na América, por meio da qual eles manifestaram sua perspectiva a respeito da escravidão e elaboraram projetos políticos alternativos ancorados em uma consciência histórica utópica. A perspectiva africana sobre o cativeiro, representada pela terapêutica dos calundus, configurou uma importante ameaça simbólica contra a ideologia que legitimava moralmente a existência da escravidão na América portuguesa a partir de um discurso construído usando as categorias da teologia católica. A tese pretende analisar os embates entre calunduzeiros e instituições de repressão religiosa como aspectos de um debate político, intelectual e ideológico, travado no idioma da religião, que dizia respeito à existência e à legitimidade do cativeiro no mundo imperial português.

Tratados médicos e doenças dos escravizados

Autor
Márcia Moisés Ribeiro
Resumo

A proposta da aula é discutir a produção de tratados médicos que circularam pelo universo colonial escravista e pelo mundo Atlântico do século XVIII. Apresentados em várias versões, esses livros circularam entre cirurgiões e práticos, fazendeiros, donos de plantations, proprietários de navios e mercadores interessados na mercadoria escrava. Na aula serão analisados  trechos de alguns dos livros apresentados no início o que propiciará   a visualização dos diálogos culturais estabelecidos entre o Brasil e as Áfricas. Texto de base para a aula:  WISSENBACH, Maria Cristina Cortez. Cirurgiões do Atlântico Sul- conhecimento médico e terapêutico nos circuitos do tráfico e da escravidão (séculos XVII-XIX) Anais do XVVV Encontro Regional de História- O lugar da História. ANPUH/SP- UNICAMP, Campinas, 6 a10 de setembro de 2004. Cd-Rom.

Resenha do último livro de James Sweet: Domingo Álvares, African Healing, and the Intellectual History of the Atlantic World

Autor
Marina de Mello e Souza
Resumo

O livro é resultado de uma pesquisa minuciosa, artticula a história do Daomé à história atlântica, reconstitui a trajetória de um jeje escravizado conduzindo com maestria o leitor, mas propõe uma conclusão não satisfatória. Merece não só ser lido, como traduzido.